Projetinho de restauro do Gol quadrado pode ser uma armadilha para o bolso
Apesar de adorado pelo brasileiro, primeira geração do Gol está longe de ser um projeto de restauração barato e viável para uso cotidiano

Um GTI impecável pode custar mais de R$ 150 mil (Fotos: Volkswagen | Divulgação)
Por Marcelo Jabulas
23 de fevereiro de 2023 18:03
Quem acompanha o mercado de carros usados sabe que a primeira geração do Volkswagen Gol (o quadrado) está valorizada na praça. A carroceria original do compacto da marca alemã ficou em linha por 16 anos, entre 1980 e 1996. É um carro que tem grande apelo emocional, que fez parte da história de uma infinidade de famílias e nutre memórias afetivas. E todo esse carinho elevou o sarrafo do caixotinho.
Os preços geralmente partem de R$ 10 mil, mas podem atingir cifras estratosféricas em versões como GT, GTS e GTI. A média – para as versões comuns – varia entre R$ 15 mil e R$ 30 mil. Isso porque o Gol entrou na seara dos carros colecionáveis. Todo carro de ano 1993 para baixo já pode solicitar placa preta, pois já tem 30 anos de fabricação. Tudo isso fez com que o Gol quadrado disparasse no mercado.
Um GTI, ano 1989, em perfeito estado de conservação, pode custar mais de R$ 150 mil. Daí, muita gente tem apostado em restaurar um Golzinho, nos chamados projetinhos.
Projetinho do Gol quadrado
Mas vale a pena comprar um Gol “quadrado” para restaurar? A resposta é: depende. São vários fatores, como versão e motorização, estado de conservação da estrutura e condições da parte mecânica que podem influenciar demais no preço.
O Gol “quadrado” foi oferecido em diversas versões e com motores 1.3 e 1.6 (refrigerados a ar), assim como as unidades 1.6, 1.8 e 2.0 de refrigeração líquida. Assim, algumas peças são mais difíceis de garimpar. Itens de acabamento, como grades, para-choques, retrovisores, frisos, faróis, lanternas, faróis auxiliares que já começaram a ficar escassos, principalmente se a peça for original.

A primeira geração do Gol teve três desenhos de faróis e grades do radiador, além de dois modelos de para-choques e lanternas
Um farol original retangular, utilizado nas linhas 1988 a 1992, pode custar mais de R$ 300. Um para-choque (também original) gira em torno de R$ 2.500. Já os bancos Recaro das versões esportivas, não saem por menos de R$ 4.000.
Um emblema plástico do Gol GTS pode sair por até R$ 500. Já as rodas “Pingo D’água” custam entre R$ 3.000 e R$ 3.500, o jogo. Quando se fala das versões mundanas, como CL, GL e 1000, os itens de acabamento são mais baratos, mas não são de graça.
Ou seja, mesmo que se compre um “caixote” com preço atrativo ou até mesmo se você ganhar um, colocá-lo em estado de novo custará uma pequena fortuna. Pintura, mecânica, funilaria, peças originais podem superar a soma dos R$ 50 mil. Saiba mais detalhes, clicando aqui
Isso tudo, considerando que o carro tenha boa estrutura e não tenha sido “salvado” num esticador. E ao final de todo esse esforço, ele ainda manterá algumas deficiências e limitações de um projeto antigo. Confira cinco delas.
1. Trincas estruturais
A primeira geração do Gol sofre com problemas de trincas no cofre do motor. Geralmente aparecem na parede corta-fogo, que faz divisa com o habitáculo. O “Quadrado” também sofre com trincas no túnel central. Essas fissuras podem resultar na entrada de água no interior do carro e potencializa pontos de ferrugem. Saiba mais detalhes, clicando aqui
2. Corrosão e vedação
Já que estamos falando de ferrugem, a primeira geração do Gol foi projetada nos anos 1970 e a Volkswagen utilizou o Passat como base. Até o final dos anos 1990, os processos de tratamento contra corrosão e construção eram bem menos sofisticados que os da indústria atual.
Assim, o Gol sofre com pontos de ferrugem devido a qualidade de pintura oferecida na época, além de folgas de encaixe que potencializam o acúmulo de água que acelera a oxidação.
Assim, é bastante comum encontrar um Gol aparentemente bonitinho, mas que está igual ao carro dos Flintstones por baixo. Saiba mais detalhes, clicando aqui
3. Superaquecimento do motor AP
Se a carroceria do Gol é quase cinquentenária, seu motor também não é nada novo. O AP (EA827) foi desenvolvido pela Audi e entrou em linha no ano de 1972. No Brasil estreou no Passat e depois passou a equipar os demais modelos da gama. Trata-se de um motor aclamado por sua durabilidade e manutenção barata. No entanto, é um motor que frequentemente tem problemas de superaquecimento.
O defeito se deve ao entupimento das mangueiras. É necessário verificar frequentemente as mangueiras do reservatório de expansão, assim como as borrachas que conectam o radiador ao bloco. Troca das mangueiras e revisão do sistema de arrefecimento é fundamental na restauração de um Gol quadrado.
Outra coisa que pode desanimar o restaurador: o consumo de combustível. Afinal, o gol quadrado não é nenhum exemplo de economia sobretudo se for equipado com o motor AP1800 ou superior. O consumo de gasolina pode variar de 6,7 km/l rodando 100% do percurso em perímetro urbano a 12,8 km/l rodando 95% em rodovia. Saiba mais detalhes, clicando aqui
4 – Volante desalinhado com os pedais
A primeira e segunda gerações do Gol (as que foram oferecidas com motor longitudinal) sempre tiveram volante e pedais desalinhados. O motivo é justamente a montagem do motor, que “empurrava” a barra de direção para o lado.
Para piorar, também não há sintonia com o banco, que é afastado para a esquerda devido ao túnel central. O motorista dirige com a perna direita esfregando na parede da transmissão, que irradia muito calor. Não chega a ser o fim do mundo, mas compromete o conforto e a ergonomia.
5 – Suspensão dura
Quem busca um Gol quadrado para ser seu carro de uso diário, deve ficar ciente de que a suspensão do veterano é dura. Ela garante boa estabilidade, mas é um verdadeiro porrete. Em um rolê de final de semana é pura curtição. Mas no batidão cotidiano, não há amor pelo Caixote que resista. Um Gol quadrado para dar um passeio no domingo é divertido, mas para uso diário é exigir demais do veterano e do conforto.
Então, se o amigo estiver pensando em gastar o montante de um carro popular zero, num “projetinho” do Gol caixote, pense bem. Afinal você irá gastar muito e corre o risco de não ter um carro de uso diário. Ou seja, uma brincadeira para quem está com dinheiro sobrando e não depende do Gol quadrado no dia a dia.
MARCELO JABULAS
Marcelo Ramos, o Jabulas, é formado em jornalismo e louco por carros e videogames. Atua no setor automotivo desde 2002, com passagem em diversas publicações e já cobriu lançamentos e salões dentro e fora do Brasil.
Fonte: Autopapo
Bônus:
Olha só, o pessoal do canal Opinião Sincera também adquiriu um Gol quadrado para se incomodar, confira “todos” os vídeos da saga na playlist deles no Youtube:
É isso ai pessoal, até a próxima!
Ricardo Rico
Membro da equipe Avalia Carros, Ricardo Rico é Instrutor de Trânsito formado pelo CEVAT – Centro Educacional de Valorização de Trânsito e credenciado pelo DETRAN/SP, também é DOV – Despachante Operacional de Voo.
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